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Prof. Marcelo Visintainer Lopes

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Carta náutica - parte 2. como ler um rumo?

 Escola de Vela Oceano Florianópolis

Cursos de Vela Oceânica, Charter de Veleiro e Travessias Oceânicas

 

Escola de Vela Oceano - imagem carta náutica


Por Marcelo Visintainer Lopes

Instrutor de Vela

Escola de Vela Oceano

  

O rumo é uma das informações mais relevantes que podem ser obtidas na carta náutica e a régua paralela é o instrumento mais utilizado para isto.

Embora a régua tenha suas funcionalidades, apresentarei aqui outras formas menos comuns para a obtenção do rumo.

São instrumentos pouco conhecidos, porém muito mais práticos do que a régua.  

Sabe aquele transferidor escolar de 360°?

É parecido com ele, mas não é ele.

O escolar pode ajudar nos exercícios em casa mas não pode ser utilizado como instrumento de precisão.

O transferidor que utilizo é vendido nas lojas de material para desenho técnico e se difere do outro pelo valor.

Enquanto um custa R$ 2,50 (em média) o outro custa R$ 30,00.

Ele é maciço, robusto e possui um único furo central.

Instalo um fio dental de aproximadamente 50cm no furo coloco uma fita transparente por baixo.

O instrumento de precisão está pronto para uso!

Tá achando que é brincadeira?

Posso garantir que não é!

Aprendi isto a uns 30 anos atrás durante a travessia Porto Alegre – Rio Grande.

Enchi tanto o saco daquele cara que ele acabou me mostrando como funcionava o transferidor.

Naquela época se contava nos dedos de uma só mão os velejadores que conheciam os segredos da carta. Eles mantinham todo o seu conhecimento em sigilo.

Aqueles caras eram muito requisitados para transladar veleiros e embarcações a motor, pois não havia GPS.

Logo no início percebi que o transferidor era mais rápido e eficaz do que a régua e passei a utilizá-lo com frequência.

Pouco tempo depois descobri que ele era usado também pelos aviadores.

O modelo utilizado por eles é mais sofisticado. Possui uma régua móvel rebitada no furo central e é ela que faz o papel do fio dental da minha versão.

O único senão é a necessidade de reacomodar os dedos, já que atrapalham no momento de girar a régua.

O transferidor de 360° nada mais é do que a rosa dos ventos portátil.

Com ele dispensamos o transporte do rumo até a rosa.

Desta forma podemos trabalhar com a carta em tamanho reduzido, dobrada e com apenas o trecho que nos interessa (entre o ponto de partida e o de chegada).

 

Como utilizar o transferidor?

1.Coloque o furo central bem em cima do ponto de partida.

2.Alinhe o norte do transferidor com o norte da carta. Utilize os paralelos (linhas horizontais) e meridianos (linhas verticais) como referências. O transferidor possui traços horizontais e verticais que servem para alinhá-los aos paralelos e meridianos.

Ao alinhar o nortes obteremos um rumo com 100% de precisão.

3. Estique o fio ou leve a régua até o ponto de chegada e leia o valor. O valor está exposto na graduação existente na borda externa.

 

Importante: os rumos obtidos na régua paralela e no transferidor NÃO PODEM ser utilizados diretamente na bússola, pois existe uma diferença (em graus) entre os dois.

O norte de referência da carta é o geográfico (norte verdadeiro) e o norte da bússola é o norte magnético.

A diferença entra eles é chamada de declinação magnética, mas isto é assunto para outra postagem.

 

Como utilizar a régua paralela?

1.Coloque a régua em cima dos pontos desejados de saída e chegada (A e B por exemplo).

A régua paralela é formada por duas réguas conectadas por barras de metal com pequenos botões que servem como pegadores.

Segure firme um pegador e arraste o outro em direção à rosa dos ventos.

Repita a operação até a régua cruzar “inteira” pelo ponto central da rosa.

Faça a leitura na graduação da rosa externa. Não utilize a rosa interna (falarei dela no futuro).

Preste atenção no seguinte: você saiu de A e foi para B. A leitura é feita no lado do ponto B (aqui é fácil se enganar).

 

Qual o motivo para utilizar instrumentos alternativos?

Na vida real (lá fora quando o bicho tá pegando) a régua paralela é um instrumento de uso complicado.

Para que tudo dê certo na obtenção do rumo é necessária uma boa dose de calma e sorte, pois muita coisa pode ocorrer até a régua chegar na rosa.

Erros no transporte da reta são bem mais comuns do que você imagina.

Uma coisa é o barco estar atracado no pier e a outra é o mar estar nervoso e balançado.

É justamente no deslocamento da régua que a porca entorta o rabo, pois se ela mexer, ferrou...

A régua funciona bem nas grandes mesas de jantar (em casa), nas grandes mesas dos navios e em veleiros de grande porte.

 

Outro inconveniente da régua

A régua permite a obtenção de apenas um rumo por vez. Traça, avalia o fundo, transporta e lê (rezando pra não desalinhar com o rumo original). Volta e repete para o próximo rumo... Uma verdadeira lenda!

Neste ponto os transferidores são imbatíveis ao permitir a obtenção simultânea de rumos.

A tomada de rumos alternativos normalmente é utilizada quando o tempo piora ou está por piorar.

A partir de um ponto posso definir o rumo para o abrigo A, para o abrigo B, para o abrigo C ou mesmo definir um rumo seguro para águas abertas e profundas...

A rápida obtenção de rumos permite agilidade na definição da melhor estratégia de enfrentamento.

 

ATENÇÃO

O mais importante nas duas técnicas é a atenção nas informações contidas logo abaixo da reta do rumo desejado.

Nem sempre é possível ir direto de um ponto, pois poderão haver obstruções no caminho.

Com muita atenção e calma, percorra com os olhos todo o trecho entre os dois pontos e atente-se para a existência de qualquer perigo à navegação (pedra, naufrágio, boia, ilha, ilhota, laje, banco de areia etc.).

Depois de ter certeza que o rumo é 100% seguro você estará apto a ler o rumo no transferidor ou na rosa dos ventos.

 

E o rumo da volta?

O rumo contrário é chamado de rumo recíproco.

Pegue o valor obtido e some ou subtraia 180°.

Se o valor obtido for menor que 180°, some 180.

Exemplo: rumo de ida 100° (rumo de volta 280°).

Se o valor for maior que 180°, subtraia 180.

Exemplo: rumo de ida 190° (rumo de volta 010°).

 

Anotação dos rumos

Os rumos vão de 000° a 360° e sempre devem ser anotados e passados para o timoneiro sempre com três casas.

Se o resultado der 5°, anote 005° e na hora de falar o rumo para o timoneiro, faça-o em alto e bom tom dizendo: rumo ZERO, ZERO, CINCO (005).

É importante que ele confirme o rumo escutado, repetindo-o para você (os números devem bater).

Se o resultado der 30°, anote 030° e na hora de falar o rumo para o timoneiro, faça-o em alto e bom tom dizendo: rumo ZERO, TRÊS, ZERO (030).

Deu pra entender?

 

Se ficou com alguma dúvida me chame no whatsapp 48988113123 que terei imenso prazer em ajudar!

 

Bons ventos!

 


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